Leonardo Boff: A crise atual deve ter alguma saída
Não sairemos da crise nem desfaremos os conchavos golpistas sem uma reforma política, tributária e agrária. Caso contrário a democracia será manca e caolha
Leonardo Boff - na Carta Maior
Em segundo lugar, a atual crise brasileria tem um transfundo histórico que jamais pode ser esquecido, atestado por nossos historiadores maiores: nunca houve uma forma de governo que desse atenção adequada às grandes maiorias, descendentes de escravos, de indígenas e de populações empobrecidas. Eram vistos como jecas-tatus e joãos-ninguém. O Estado, apropiado desde o início de nossa história pelas classes proprietárias, não estava apetrechado para atender às suas demandas.
Em terceiro lugar, há que se reconhecer que, como fruto de uma penosa e sangrenta história de lutas e superação de obstáculos de toda ordem, se constituiu uma outra base social para o poder político que agora ocupa o Estado e seus aparelhos. De um Estado elitista e neoliberal se transitou para um Estado republicano e social que, no meio dos maiores constrangimentos e concessões às forças dominantes nacionais e internacionais, conseguiu colocar no centro quem estava sempre na margem. É de magnitude histórica inegável, o fato de o Governo do PT ter tirado da miséria 36 milhões de pessoas e dar-lhe acesso aos bens fundamentais da vida. O que querem os humildes da Terra? ver garantido o acesso aos bens mínimos que lhes possam fazer viver. A isso servem a Bolsa Família, Minha Casa Minha vida, Luz para todos e outras políticas sociais e culturais sem as quais os pobres jamais poderiam ser advogados, médicos, engenheiros, pedagogos etc.
Qualifiquem como quiserem estas medidas, mas elas foram boas para a imensa maioria do povo brasileiro. Não é a primeira missão ética do Estado de direito a de garantir a vida de seus cidadãos? Por que os governos anteriores, de séculos, não tomaram essas iniciativas antes? Foi preciso esperar um presidente-operário para fazer tudo isso? O PT e seus aliados conseguiram essa façanha histórica, não sem fortes oposições por parte daqueles que outrora desprezaram, “os considerados zeros econômicos”, como o mostraram Darcy Ribeiro, Capistrano de Abreu, José Honório Rodrigues Raymundo Faoro e ultimamente Luiz Gonzaga de Souza Lima e hoje continuam ainda a desprezá-los.
Alguns extratos das altas classes privilegiadas têm vergonha deles e os odeiam. Há ódio de classe sim, neste pais, além da indignação e da raiva compreensíveis, provocadas pelos escândalos de corrupção havidos no governo hegemonizado pelo PT. Estas elites velhistas com seus meios de comunicação altamente marcados pela ideologia reacionária e de direita, apoiados pela velha oligarquia, diferente da moderna mais aberta e nacionalista, que em parte apoia o projeto do PT, nunca aceitaram um governo de cariz popular. Fazem de tudo para inviabilizá-lo e para isso se servam de distorções, difamações e mentiras, sem qualquer pudor.
Duas estratégias se desenham pela direita que conseguiu se articular para voltar ao poder central que perdeu pelo voto mas que ainda não se conformou:
A primeira é manter na sociedade uma situação de permanente crise política para com isso impedir que a Presidenta Dilma governe. Para isso se orquestram passeatas pelas ruas, fazendo como que um convescote, os panelaços com panelas cheias pois nunca souberam o que é uma panela vazia, ou então, de forma deseducada e grosseira vaiar sistematicamente a Presidenta em suas aparições públicas.
A segunda consiste num processo de desmontagem do governo do PT, caluniando-o como incompetente e ineficaz e desconstruir a liderança do ex-presidente Lula com difamações, distorções e mentiras diretas, que quando desmascaradas, não são desmentidas. Com isso pretendem impedir sua candidatura em 2018 e sua reeleição.
Esse tipo de procedimento apenas revela que democracia que ainda temos, de baixíssima intensidade. Os atos recentes, provocadores e cheios de espírito de vingança dos presidentes das duas casas, ambos do PMDB, confirmam o que o sociólogo da UNB, Pedro Demo, escreveu em sua Introdução à sociologia (2002):”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniquados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima… Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333).
Não sairemos desta crise nem desfaremos os conchavos revanchistas e golpistas sem uma reforma política, tributária e agrária. Caso contrário a democracia será manca e caolha.
A crise política e econômica atual cria a oportunidade de fazermos realmente mudanças profundas como a reforma política, tributária e agrária. Para termos a embocadura correta, importa considerar alguns pontos prévios.
Em primeiro lugar, cabe situar nossa crise dentro da crise maior da humanidade como um todo. Não vê-la dentro deste embricamento é estar fora do atual curso da história. Pensar a crise brasileira fora da crise mundial não é pensar a crise brasileira. Somos momento de um todo maior. No nosso caso, não escapa ao olhar cupisoso dos países centrais e das grandes corporações qual será o destino da 7ª economia mundial onde se concentra o principal da economia do futuro de base ecológica: a abundância de água doce, as grandes florestas úmidas, a imensa biodiversidade e os 600 milhões de hectares agricultáveis. Não é do interesse da estratégia imperial que haja no Atlântico Sul uma nação continental como o Brasi que não se alinhe aos interesss globais e, ao invés, procure um caminho soberano rumo ao seu próprio desenvolvimento.
Em primeiro lugar, cabe situar nossa crise dentro da crise maior da humanidade como um todo. Não vê-la dentro deste embricamento é estar fora do atual curso da história. Pensar a crise brasileira fora da crise mundial não é pensar a crise brasileira. Somos momento de um todo maior. No nosso caso, não escapa ao olhar cupisoso dos países centrais e das grandes corporações qual será o destino da 7ª economia mundial onde se concentra o principal da economia do futuro de base ecológica: a abundância de água doce, as grandes florestas úmidas, a imensa biodiversidade e os 600 milhões de hectares agricultáveis. Não é do interesse da estratégia imperial que haja no Atlântico Sul uma nação continental como o Brasi que não se alinhe aos interesss globais e, ao invés, procure um caminho soberano rumo ao seu próprio desenvolvimento.
Em segundo lugar, a atual crise brasileria tem um transfundo histórico que jamais pode ser esquecido, atestado por nossos historiadores maiores: nunca houve uma forma de governo que desse atenção adequada às grandes maiorias, descendentes de escravos, de indígenas e de populações empobrecidas. Eram vistos como jecas-tatus e joãos-ninguém. O Estado, apropiado desde o início de nossa história pelas classes proprietárias, não estava apetrechado para atender às suas demandas.
Em terceiro lugar, há que se reconhecer que, como fruto de uma penosa e sangrenta história de lutas e superação de obstáculos de toda ordem, se constituiu uma outra base social para o poder político que agora ocupa o Estado e seus aparelhos. De um Estado elitista e neoliberal se transitou para um Estado republicano e social que, no meio dos maiores constrangimentos e concessões às forças dominantes nacionais e internacionais, conseguiu colocar no centro quem estava sempre na margem. É de magnitude histórica inegável, o fato de o Governo do PT ter tirado da miséria 36 milhões de pessoas e dar-lhe acesso aos bens fundamentais da vida. O que querem os humildes da Terra? ver garantido o acesso aos bens mínimos que lhes possam fazer viver. A isso servem a Bolsa Família, Minha Casa Minha vida, Luz para todos e outras políticas sociais e culturais sem as quais os pobres jamais poderiam ser advogados, médicos, engenheiros, pedagogos etc.
Qualifiquem como quiserem estas medidas, mas elas foram boas para a imensa maioria do povo brasileiro. Não é a primeira missão ética do Estado de direito a de garantir a vida de seus cidadãos? Por que os governos anteriores, de séculos, não tomaram essas iniciativas antes? Foi preciso esperar um presidente-operário para fazer tudo isso? O PT e seus aliados conseguiram essa façanha histórica, não sem fortes oposições por parte daqueles que outrora desprezaram, “os considerados zeros econômicos”, como o mostraram Darcy Ribeiro, Capistrano de Abreu, José Honório Rodrigues Raymundo Faoro e ultimamente Luiz Gonzaga de Souza Lima e hoje continuam ainda a desprezá-los.
Alguns extratos das altas classes privilegiadas têm vergonha deles e os odeiam. Há ódio de classe sim, neste pais, além da indignação e da raiva compreensíveis, provocadas pelos escândalos de corrupção havidos no governo hegemonizado pelo PT. Estas elites velhistas com seus meios de comunicação altamente marcados pela ideologia reacionária e de direita, apoiados pela velha oligarquia, diferente da moderna mais aberta e nacionalista, que em parte apoia o projeto do PT, nunca aceitaram um governo de cariz popular. Fazem de tudo para inviabilizá-lo e para isso se servam de distorções, difamações e mentiras, sem qualquer pudor.
Duas estratégias se desenham pela direita que conseguiu se articular para voltar ao poder central que perdeu pelo voto mas que ainda não se conformou:
A primeira é manter na sociedade uma situação de permanente crise política para com isso impedir que a Presidenta Dilma governe. Para isso se orquestram passeatas pelas ruas, fazendo como que um convescote, os panelaços com panelas cheias pois nunca souberam o que é uma panela vazia, ou então, de forma deseducada e grosseira vaiar sistematicamente a Presidenta em suas aparições públicas.
A segunda consiste num processo de desmontagem do governo do PT, caluniando-o como incompetente e ineficaz e desconstruir a liderança do ex-presidente Lula com difamações, distorções e mentiras diretas, que quando desmascaradas, não são desmentidas. Com isso pretendem impedir sua candidatura em 2018 e sua reeleição.
Esse tipo de procedimento apenas revela que democracia que ainda temos, de baixíssima intensidade. Os atos recentes, provocadores e cheios de espírito de vingança dos presidentes das duas casas, ambos do PMDB, confirmam o que o sociólogo da UNB, Pedro Demo, escreveu em sua Introdução à sociologia (2002):”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis “bonitas”, mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que a ela sirva do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniquados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima… Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação”(p.330.333).
Não sairemos desta crise nem desfaremos os conchavos revanchistas e golpistas sem uma reforma política, tributária e agrária. Caso contrário a democracia será manca e caolha.
Créditos da foto: Agência Senado
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