SANTAYANA: A BOLA, O FASCISMO E AS URNAS

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por Mauro Santayana - em seu blog, com equipe - 17/09/2018

Convalescendo no hospital do atentado de que foi vítima, o candidato do PSL às eleições deste ano, diante da evolução das pesquisas que colocam em dúvida sua eleição em segundo turno, aproveitou para mais uma vez atacar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, segundando o discurso de seus apoiadores e de provocadores  fascistas que insistem, nas redes sociais, em afirmar que ele já estaria eleito em primeiro turno e que qualquer outro resultado só poderá ser fruto de uma “fralde” passível de ser diretamente contestada, até mesmo pelas armas, segundo os mais afoitos.

O Fascismo só chegou onde chegou, no Brasil, por duas principais razões.

A primeira, a irresponsabilidade histórica de certa esquerda, principalmente a que esteve no poder  nos últimos anos, que se permitiu ceder à pressão e promulgar leis fascistas e corporativistas, tecendo e forjando, com as próprias mãos, a corda que iria enforcá-la e as grades que iriam aprisioná-la jurídica, midiática e politicamente.

Isso aconteceu tanto com a aprovação da inconsequente autonomia de setores do Estado que deveriam sempre atuar sob a autoridade do poder político, diretamente emanado do voto, quanto com o paulatino abandono das redes sociais ao fascismo e à extrema-direita, que aconteceu desde o famigerado golpe de lawfare do mensalão.

Sem contestação digna desse nome.

Apesar de constantes alertas emitidos desde essa época, e, principalmente durante a sabotagem da Copa do Mundo e na preparação do Golpe de 2016, por diferentes jornalistas e observadores, que pregaram - e continuam pregando, a se ver pelo miserável número de internautas de esquerda nos comentários das notícias que envolvem a candidatura fascista, por exemplo - literalmente no deserto nos últimos anos.

A segunda - justamente pela ausência da esquerda dos espaços de comentários dos principais sites e portais da internet brasileira - pela elevação da mentira - pelo candidato que hoje “lidera” as pesquisas graças à espúria ausência de Lula da disputa pela presidência da República, já denunciada em todo o mundo - ao status de arma maior no processo político nacional, não apenas na derrubada de Lula e de Dilma do poder, mas também na consolidação da ideologia proto-fascista no país.

À qual se segue,  agora, o cerco calunioso e hipócrita contra a Democracia, com o questionamento público não apenas do nosso sistema político, mas também e principalmente do sistema eleitoral vigente em nosso país, que é um dos mais avançados do mundo.

Se teses como a justificativa da ditadura; a defesa da tortura; do genocídio da periferia; do armamento seletivo - pois que controlado pela “autoridade” da esquina - da direita; da castração química; da redução da maioridade penal; da escola sem partido; da militarização do ensino; do alinhamento com os Estados Unidos - com a defesa intransigente de Israel apoiada pela sionização de nossas maiores igrejas evangélicas, nascida da exploração farisaica dos símbolos da “Terra Prometida” pelos programas “agro-pastorais” de televisão e a adoção da simbologia religiosa e política israelense, como a própria bandeira de Israel; da existência de um maligno Foro de São Paulo e de uma fantástica e insidiosa URSAL (termo mais apropriado para uma instalação stalinista de criação de ursos para o circo de Moscou) contribuíram para o avanço do fascismo de um fenômeno parlamentar isolado e inexpressivo, quase folclórico, para uma corrente ideológica que já fascina e envolve - novamente graças à total ausência de combate pela esquerda nas redes sociais - um a cada quatro cidadãos brasileiros.

A idéia de uma conspiração da qual faria parte tanto a manipulação da contagem de votos - irresponsavelmente “denunciada” pelo PSDB nas eleições de 2014 - quanto a teoria da conspiração de urnas eletronicamente fraudadas  ou de uma justiça eleitoral infiltrada por petistas - a mesma que paradoxalmente decidiu majoritariamente manter Lula atrás das grades apesar de determinação em contrário das Nações Unidas - está dirigida agora para levar o fascismo para o poder a qualquer preço, com a alusão a um  “autogolpe”, como se referiu Mourão, ou a eventual contestação da legitimidade do próximo governo - aludida pelo Ministro do Exército - fantasmagóricas e veladas ameaças que se apoiam no constante trabalho de sapa da militância fascista na internet, com a produção, por sites fakes, de notícias fakes - denunciadas por parte da mídia mas sem nenhuma investigação pela Justiça Eleitoral, como a que produziu e divulgou uma suposta pesquisa de uma suposta empresa norte-americana que teria apurado um resultado de 45% de aprovação para a candidatura fascista já no primeiro turno.

O que espanta, no Brasil, como quase sempre ocorre, não é que o fascismo vomite suas mentiras e estapafúrdias teses, como fez sempre na História, na abjeta fabricação do Plano Cohen ou nos perdigotianos latidos de Hitler ao microfone que prenunciavam o fim da República de Weimar.  
 
Embora fosse o caso de indagar ao convalescente candidato da extrema-direita por que ele não reclamou das urnas quando foi o deputado mais votado nas últimas eleições no Rio de Janeiro - um estado dominado pela milícia - ou, simplesmente por que os malvados e solertes “agentes” do PT na justiça eleitoral, com o poder que têm de manipular os resultados, simplesmente não impediram, alterando os dados, que ele fosse eleito 7 vezes deputado federal nos últimos anos, apesar de, durante todo esse tempo, ter crescido e ter tentado se  apresentar como o principal adversário, o inimigo público número um do Partido dos Trabalhadores.

Ou por que, se o fascismo acredita mesmo que as urnas eletrônicas brasileiras são “fraldadas”, como estão escrevendo por aí tantos bolsominions, o fascismo nunca compareceu com seus hackers - como os que invadiram “corajosamente” a página de mulheres contra Bolsonaro no Facebook na última semana - para tentar provar nos testes abertos promovidos todos os anos pelo TSE para quem quiser deles participar se existem e de que tipo são as tais falhas de segurança no hardware ou no software utilizado pelo sistema eleitoral brasileiro que só existem nas calúnias de seus militantes e nas notícias fakes plantadas por canalhas de plantão em sites e portais idem.

Onde está, nesse caso, o familiar topete do Ministro Fux, que afirmou que o uso de notícias fakes poderiam até mesmo justificar a anulação das eleições?

Tanto ou mais insultante, para a democracia brasileira, que as declarações de Bolsonaro a propósito da democracia e do sistema eleitoral, é o silêncio dos ministros membros e da Presidente do TSE sobre as acusações, por parte de um tribunal que não está aí apenas para fiscalizar a  campanha e o processo eleitoral, mas, primeiramente, em teoria, para defender ética e moralmente um sistema político-eleitoral que está diretamente sob sua responsabilidade.

Afinal, quando diz que as urnas brasileiras são fraudadas, Bolsonaro não está falando do José, do Pedro, do Paulo, do quitandeiro da esquina ou do PT genericamente.

Ele está se referindo diretamente, caso queiram ou não os membros do TSE e do Supremo Tribunal Federal que ora fazem cara de paisagem, tão cientes, em outras ocasiões, da defesa corporativa de suas instituições e de seus pares,  à Justiça Brasileira como um todo.

Com a  clara intenção de subverter a ordem pública e contestar o sistema político vigente, e, preventivamente, antecipadamente, escorchantemente, o resultado das próximas eleições.

Como o menino que mostra o canivete no meio do jogo e diz que está pronto para furar a bola - que nunca foi sua - caso seu time leve a pior na pelada do campinho.

E que não nos venham falar em liberdade de expressão.

Quando se acusa alguém - no caso, a Justiça Eleitoral - de fraude e prevaricação, é preciso provar o que se está falando.

Seré que não vai aparecer um advogado, um cidadão, para pedir a cassação da candidatura por tentativa de prejudicar a ordem pública e tumultuar o processo eleitoral em curso?    

Será que algum ministro do Superior Tribunal ou da Suprema Corte, não se habilitará a  responder a essas acusações?

Ou a instituição não emitirá sequer uma nota, citando as condições  técnicas e de segurança do sistema, em defesa da Democracia?

Será que o partido diretamente acusado de manipulação das urnas, o PT, não vai, mais uma  vez, tomar nenhuma providência?

Em qualquer país decente, menos hipócrita, menos canalha, menos acovardado, tendo melhorado de suas condições de saúde, o referido candidato seria chamado a esclarecer suas declarações na corte responsável pelas eleições, e, caso não apresentasse provas de suas afirmações, punido, multado, ou, no mínimo, obrigado a assinar um termo de compromisso para não repeti-las, ou, em ultima instância, teria sua candidatura cassada, por calúnia contra o próprio TSE e tentativa de subversão e manipulação da opinião pública contra a Constituição e o sistema democrático.

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