O demônio ri dos seus serviçais. Por Sergio Saraiva

O demônio é o pai da ironia. O que mais dizer ao assistir o Ministro Gilmar Mendes absolver Dilma Rousseff? E para isso ter de desdizer todos os argumentos que utilizou para processá-la.

Gilmar ri
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Por Sergio Saraiva - junho 10, 2017

Batalhou para que novas provas fossem incluídas no processo, argumentou contra o absurdo de incluir novas provas em um processo já em andamento.
Poderíamos até acreditar que Gilmar Mendes odeia os relatores dos processos que julga. Ficou contra a relatora que recomendava o arquivamento da reclamação do PSDB contra a chapa Dilma-Temer, em 2015. Ficou contra o relator que em 2017 recomendou a cassação da mesma chapa.

Igualmente interessante também ver o campo da esquerda lamentar que a ex-presidente Dilma não tenha tido seus direitos políticos cassados pelo TSE, depois de ter comemorado como salvados do incêndio que os tenha conservado quando do impeachment. Mas neste caso, seria o caso de dizer que Deus escreveria certo por linhas tortas com a cassação de Temer, ainda que vitimasse Dilma, e resta à esquerda acusar Gilmar Mendes de ser analfabeto nas letras celestiais.
Que artes do capeta movem Gilmar Mendes? Pagou um preço altíssimo para defender Michel Temer. Empenhou sua credibilidade nessa empresa. Gastou bom latim com mau defunto. Bastaria se abster de votar, sua condição de presidente lhe permitia isso. “In dubio pro reo”. O resultado seria o mesmo e o diabo gargalharia. Mas, então, não seria Gilmar. O demônio também domina a caligrafia tortuosa.
Quanto aos dois ministros recém indicados por Temer, não economizaram, pagaram o preço à vista. O lixo da história é lugar disputado. Só aos escolhidos ele está reservado.
Temer passa a contaminar àqueles que dele se aproximam.
Uma palavra em relação ao ministro Herman Benjamin, o relator do caso no TSE – diabólico.
Michel Temer é um caso perdido. Faz política segundo o manual de Maquiavel. Poderia ser o professor a ensinar Dilma Rousseff. Comete pecados imperdoáveis.Teme vai à guerra
Para manter-se no poder, seria tolo o príncipe que tivesse escrúpulos em agir contra a piedade, a lealdade, a integridade, a humanidade e a religião. Estará condenado, no entanto, aquele príncipe que parecer ao povo que atentou contra esses valores. Ensinou Maquiavel.
Temer se recusa a responder aos questionamentos da Polícia Federal. O trocadilho é inevitável:  quem não deve não Temer. Confissão de culpa. A retaliação à JBS está nos jornais e com fatos concretos e o uso da ABIN para bisbilhotar o ministro Fachin está na capa da Veja – não exatamente com fatos – pior ainda para Temer. Constrangimento à testemunhas e obstrução à Justiça. Não haverá como o STF não aceitar a iminente denúncia pelo Procurador Geral da República.
O Congresso, a um ano e meio das eleições, terá novamente que assumir o microfone e de viva voz e em cadeia nacional de televisão defender Temer. Tudo devidamente registrado para ser usado na campanha. “Pela minha mãe, pelos meus filhos, pela Pátria e pelo seo João da Barraquinha, digo não” . Vai ser outro espetáculo.
Temer passa a contaminar àqueles que dele se aproximam.
Pequenos diabos. A retaliação a JBS acabou por comprometer a credibilidade de Pedro Parente do PSDB. Mostrou que sua presidência à frente da Petrobras é permeável a injunções político-partidárias. O poder econômico conhece as regras de Maquiavel – ou não seria o poder que é.
Temer passa a contaminar àqueles que dele se aproximam.
seria-tragico-se-nao-fosse-comico
E Dilma? O demônio é o pai da ironia. E Dilma é uma de suas filhas prediletas. Seus inimigos de ontem hoje a defendem. Seus detratores de ontem hoje a elogiam e a honram pela comparação com as suas atitudes. Enquanto isso, ela toma chimarrão em Porto Alegre à espera de rir por último.
Que mais esperar de quando o demônio passa a ser o líder político do país? Ironias e gargalhadas.

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