Homem da mala narra desespero de Aécio, a “sarna”, para conseguir propina; Temer falou da fazenda Esmeralda como se fosse dele

Saud explica a compra, pela JBS, de um prédio e um terreno em Belo Horizonte pertencentes à Ediminas, que editava um jornal que costumeiramente denunciava a corrupção — dos outros; o vídeo acima tem uma edição unindo os dois trechos nos quais o delator fala sobre o desespero de candidatos por dinheiro; a íntegra está aqui; Saud comete um equívoco ao mencionar o jornal O Tempo, quando na verdade trata-se do Hoje em Dia
O delator Ricardo Saud, da JBS, disse que a empresa dos irmãos Batista fez um acerto para doar R$ 100 milhões à campanha de Aécio Neves em 2014. Era para receber favores em Minas Gerais, então governada por Antonio Anastasia, para dar o start na campanha do ex-presidente do PSDB ao Planalto e em troca de futuros benefícios, se o tucano fosse eleito.

Para ajudar na formação da coligação de Aécio, a JBS “comprou” o apoio de vários partidos. A filha de Roberto Jefferson custou mais caro: R$ 20 milhões foram entregues a destinatários ligados ao PTB de Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson.
Jefferson quase foi canonizado pela mídia corporativa brasileira depois que denunciou o “mensalão” do PT antes da campanha de reeleição de Lula, em 2006. À época, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu a estratégia da oposição: esperar Lula “sangrar” e derrotá-lo com Geraldo Alckmin, o que não aconteceu.
Desta feita, no entanto, foi diferente. Derrotado, Aécio Neves articulou a campanha de impeachment contra Dilma Rousseff, pedindo primeiro recontagem de votos e em seguida entrando com ação para cassar a chapa Dilma-Temer no TSE, processo ainda em andamento.
Ao delator Joesley Batista Aécio disse que a ação era apenas para “encher o saco” do PT e que recebeu um pedido do usurpador Michel Temer para retirá-la. Não o fez porque a ação seguiria adiante, tocada pelo Ministério Público.
Aécio também emplacou o relator da Comissão de Impeachment no Senado, Antonio Anastasia, que deu ares de legalidade a um processo baseado em “pedaladas fiscais”.
Agora, todos os podres da máfia de Minas Gerais vêm à tona.
Num depoimento de dezembro de 2015, o delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, disse ter ouvido de um diretor da empreiteira UTC que Aécio era o “mais chato” na cobrança de propina. Ceará narrou uma entrega de 300 mil reais em dinheiro que, segundo a pessoa que lhe cobrava pressa, eram destinados ao agora senador afastado do PSDB.
Ricardo Saud, por sua vez, disse que Aécio era uma “sarna”. Derrotado, pressionou por dinheiro na compra superfaturada de um prédio onde estava instalado um jornal de Minas, que a JBS agora está tentando vender pela metade do preço que pagou: R$ 17.354.824,75. Além disso, a JBS comprou R$ 2,5 milhões em propaganda antecipada no diário.
Saud disse que o presidente do PSDB fez tanta pressão por dinheiro, junto com outros candidatos, que Joesley afirmou a ele que ambos teriam de “ir embora do Brasil”.
Quando a campanha de 2014 acabou a Operação Lava Jato estava em andamento, tornando muito mais arriscado “internar” dinheiro escondido em paraísos fiscais.
Segundo Saud, o intermediário de Aécio para comunicar decisões sobre onde aplicar a propina era o primo do senador, Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred, que está preso.
Parte do dinheiro vivo que ele recolhia durante a campanha vinha de supermercados de Belo Horizonte, que emitiam notas frias em nome da JBS.
Saud listou partidos comprados para apoiar a chapa do PSDB: PMN, PEN, PTN, PTC e PT do B. Obviamente, à venda estava o tempo de televisão para campanha eleitoral.
O PSC, do pastor Everaldo, recebeu ao menos R$ 100 mil para que o candidato atuasse como linha de apoio a Aécio nos debates.
Outro partido que a JBS comprou para apoiar Aécio foi o Solidariedade, de Paulinho da Força, por R$ 15 milhões.
O homem da mala de Joesley afirmou ser amigo pessoal de Paulinho.
Por conta disso, ouviu de Paulinho o depoimento de que o usurpador Michel Temer ficou muito agitado quando o MST ocupou a fazenda Esmeralda, em Duartina, no interior de São Paulo, em maio de 2016.
A fazenda, de 1.500 hectares, está em nome do coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho, cuja empresa, a Argeplan, foi alvo de buscas da Polícia Federal na mais recente fase da Lava Jato.
Desde a primeira ocupação, antes do início do processo de impeachment, ela já foi ocupada outras três vezes por militantes que defendem a reforma agrária.
O coronel Lima é um dos melhores amigos de Michel e foi acusado de rachar com o então deputado federal Temer propinas recebidas em negócios no porto de Santos: segundo a denúncia, 50% ficavam com Temer, 25% com o coronel e 25% com o presidente indicado por Temer para dirigir a Codesp, Companhia Docas de Santos, que controla o maior porto do Brasil.
A JBS fez uma entrega em dinheiro de R$ 1 milhão na sede da Argeplan, dinheiro que Temer teria desviado para uso pessoal dos R$ 15 milhões que o PT destinou ao PMDB na campanha de 2014 — sempre segundo Saud.
De acordo com o delator, pela conversa de Paulinho da Força foi possível deduzir que Temer falava da fazenda Esmeralda como sendo de sua propriedade. Como o Solidariedade assumiu o controle do Incra, Temer teria pressionado Paulinho a atuar para desocupar a fazenda.
Abaixo, três vídeos. Pela ordem, sobre a fazenda Esmeralda, sobre a compra de partidos e sobre Aécio, “o mais chato”:


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