Doria conta até doação de salário entre realizações de 100 dias de governo

Prefeito elencou 60 feitos de seu governo, das quais metade ainda não saiu do papel e outras são ações cotidianas de qualquer executivo municipal
por Rodrigo Gomes, da RBA publicado 10/04/2017 17h12, última modificação 10/04/2017 17h59
LUIZ GUADAGNOLI/SECOM
doria
Doria anunciou medidas realizadas em cem dias de governo na companhia do vice-prefeito, Bruno Covas
São Paulo – Em entrevista coletiva convocada para divulgar o balanço de 100 dias da gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), o mandatário juntou tudo o que pôde para chegar às 60 realizações anunciadas na manhã de hoje (10), na sede da prefeitura. Foram incluídas na conta desde ações rotineiras de qualquer governo municipal, como operação tapa-buraco, visitas a subprefeituras, fiscalizações em postos de combustível, eventos abertos como carnaval de rua – este expandido pela gestão anterior, de Fernando Haddad (PT) –, e até mesmo a doação do salário de prefeito a instituições filantrópicas. Muitas ações mencionadas ainda não saíram do papel. “Quero ser lembrado pelo conjunto da obra”, afirmou o prefeito.

Quase metade das "ações" mencionadas ainda está em elaboração. Entre elas o pacote de privatizações, cujo projeto ainda está sendo elaborado para envio à Câmara Municipal; o programa Redenção, que vai substituir o De Braços Abertos no atendimento à população em situação de dependência química na região da Luz, no centro da cidade; o Asfalto Novo, com promessa de recapear 400 mil metros quadrados de ruas e avenidas; e a disponibilização de 50 banheiros públicos móveis em feiras livres da capital. "Nossas políticas são determinantemente voltadas à população mais carente."
No caso do asfalto novo, além de ainda não ter sido iniciado, cerca de 25% do projeto refere-se apenas a reasfaltamento da Avenida Paulista, conforme Doria afirmou semana passada, em entrevista à Globo News. Já os banheiros públicos para feiras livres devem cobrir cerca de um quarto das feiras realizadas na cidade. Somente aos domingos, são montadas 190 feiras livres em toda a cidade.
Projetos como City Câmaras e Ruas Musicais, reformas de praças ainda não realizadas e até a ampliação do número de espaços públicos com rede WiFi livre, também criado na gestão Haddad, foram igualmente acrescentados ao balanço dos 100 dias de "trabalho" do atual prefeito.

Marketing intensivo

Uma ação que se tornou comum na gestão João Doria, mas que não entrou na conta das realizações dos 100 dias de governo, foram as postagens nas redes sociais. Desde 1º de janeiro o prefeito publicou 176 vídeos, em que faz transmissões de ações da prefeitura, comenta fatos políticos ou faz publicidade para empresas "doadoras" de serviços ou bens materiais.
Outra realização deixada de lado foram encontros do prefeito paulistano com empresários nacionais e estrangeiros, deputados federais e estaduais, vereadores e representantes de consulados, nos cerca de 600 eventos registrados até agora na agenda de Doria. Em nenhum destes encontros o mandatário recebeu movimentos sociais, entidades de servidores ou organizações da sociedade civil, como de ciclistas ou de participação social.  
A primeira ação efetivada pela gestão e destacada pelo prefeito foi o Programa São Paulo Cidade Linda, mutirão de zeladoria que visa revitalizar algumas regiões da cidade. Foram 15 ações desde janeiro, das quais dois terços estão em áreas centrais. Nas periferias foram apenas quatro: uma ação no Grajaú (zona sul), uma na região da Brasilândia (zona norte), duas na zona leste, em São Mateus e São Miguel Paulista. Parte do programa, Doria destacou o combate às pichações, que já resultou na prisão de 114 jovens.
O Corujão da Saúde, mutirão de exames médicos que contou com a parceria da iniciativa privada, anunciado como proposta para zerar a fila de exames na capital paulista, também recebeu destaque. Com ele, a gestão conseguiu retirar 485 mil pessoas da espera. O número é relativo a 31 de dezembro de 2016. Desse total, 145.919 pessoas não realizaram nenhum procedimento, 77.820 não necessitavam mais realizar os exames e 68.099 estavam há mais de seis meses aguardando o agendamento e foram encaminhados para reavaliação médica. Atualmente, cerca de 86 mil pessoas aguardam por um exame.
Outro "programa" destacado foi o Marginal Segura, cuja principal ação é o aumento da velocidade máxima nas marginais Pinheiros e Tietê. No dia 25 de janeiro, a velocidade foi de 50 quilômetros para 60 quilômetros por hora na pista local – exceto a faixa da direita que segue a 50 km/h –, de 60 para 70 na pista central e de 70 para 90 quilômetros por hora na pista expressa. O resultado foi um aumento de 60% no número de acidentes no primeiro mês, percentual que cresceu para 82% no segundo mês da medida. E seis mortes registradas desde a implementação até o dia de hoje.
Doria também deu amplo destaque às doações de serviços ou bens materiais feitas por empresas. Segundo ele, já foram mais de R$ 250 milhões em doações. Essas benfeitorias, no entanto, têm sido questionadas quanto à sua legalidade.
O serviço prestado pela consultoria McKinsey e a organização social Comunitas para elaboração do Programa de Metas de Doria, no valor de R$ 2,8 milhões, foi questionado pelo vereador Eduardo Suplicy (PT) no Ministério Público paulista.
Para o parlamentar, seria preciso uma concorrência pública e transparência no processo, já que as organizações teriam acesso a dados sigilosos do governo municipal. A representação de Suplicy foi entregue diretamente ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, e aguarda análise do órgão.

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