Acidentes acontecem. Silêncio na comunicação não pode acontecer

 Autor: Fernando Brito
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Quando ocorre – e não deve ocorrer – um acidente como o que aconteceu com o navio-plataforma Cidade de São Mateus, ao largo do Espírito Santo, uma empresa além de socorrer as vítimas, lamentar as mortes, assistir completamente as famílias dos mortos e feridos, iniciar de imediato a apuração das circunstâncias e das causas do problema.
Tenho certeza de que tudo isso a Petrobras fez.

Mas há  algo mais, extremamente importante, que a Petrobras não fez, talvez por ser hoje uma empresa amedrontada pela mídia: assumir a primeira linha no fornecimento de informações.
A empresa tem meios e pessoas para fazer isso, mas uma hoje total inapetência por aquilo que chamamos, hoje, gestão de crise.
É incompreensível que durante cinco horas não tenha havido um posicionamento formal de uma empresa que conta com dezenas e dezenas de profissionais de comunicação em sua estrutura.
Não é possível que a empresa não tivesse condições de dar, durante horas e ainda neste momento informações relevantes, como o fato de a plataforma não pertencer à Petrobras (mas à norueguesa BW)  ser nova (operando apenas a partir de 2009), não ser de grande porte (35 mil barris diários, contra 180 mil, dos maiores navios), não ter sido fabricada no Brasil e, sobretudo, de ser um equipamento em estado de manutenção adequada.
Pois faz menos de um ano que, no dia 30 de abril de 2014, o navio sofreu uma parada total para revisão, com diversos serviços, entre eles a substituição de válvulas e de parte do sistema elétrico, acompanhada pela própria dona no navio, a BW. Mais uma razão, portanto, para não haver qualquer tipo de vazamento que pusesse em risco a integridade de seus tripulantes.
Mesmo que os funcionários fossem da empresa norueguesa – não está claro se são – eles são servidores da Petrobras, ainda que indiretamente e merecem todo o empenho da empresa em assistir e esclarecer.
Toda empresa do porte da Petrobras e, muito mais ainda, com o tipo de riscos de uma petroleira precisa ter uma estrutura capaz de responder publicamente a estas situações.
Não basta baixar a taxa de risco para “0,0000 alguma coisa por cento”.
Porque o risco continua lá.
E a empresa tem de assumir, corajosamente, que eles existem e podem, lamentavelmente, vir a causar acidentes, mesmo que raríssimos, como se tornaram na Petrobras.
Infelizmente, a comunicação da Petrobras, como certamente boa parte da empresa, está restrita a soltar “comunicados” e “notas oficiais”.
A comunicação é muito mais que isso: é o exercício do  dever de uma grande empresa pública de se relacionar com a sociedade e, para isso, estar à frente de todos os momentos, os bons e os ruins.
PS. Exemplo concreto da falta de comunicação, tirado do Facebook do Sindicato dos Petroleiros do ES: “A diretoria do Sindipetro-ES participou da Gerência de Crise instalada pela Petrobras hoje para acompanhar o acidente. O sindicato já se manifestou e quer participar também da investigação da causa da explosão”. Mas a Petrobras não comunicou que instalou uma gerência para acompanhar o acidente, nem que chamou os trabalhadores para participar dela. Ambas atitudes corretas que ficaram no silêncio.

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