Moro interrompe pergunta de defesa de Cunha a Cerveró sobre Michel Temer

Na justificativa do juiz, a citação de autoridades de foro privilegiado pode anular o caso


Ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró
Ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró
Jornal do Brasil - 25/11/2016 - 19:20

O juiz Sérgio Moro interrompeu a pergunta do advogado de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) ao ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, sobre o presidente Michel Temer, nesta quinta-feira (24), em audiência na Justiça Federal em Curitiba. A informação foi divulgada pelo jornal Estadão.

“Essa proposta financeira que o sr. recebeu para se manter no cargo de pagar 700 mil dólares por mês também foi levada ao presidente do PMDB à época?”, indagou o advogado.

O juiz da Lava Jato interrompeu imediatamente: “Não dr, aí estou indeferindo essa questão. Isso não é objeto da acusação e não tem competência desse juízo para esse tipo de questão”.

Ainda segundo o jornal, na justificativa de Moro com relação à citação de autoridades detentoras de foro privilegiado perante tribunais superiores - como é o caso do presidente da República -, em processo de primeiro grau judicial, pode levar à anulação do caso ou provocar o deslocamento dos autos.

O Estadão também cita que na audiência, Cerveró, que é réu da Lava Jato, disse que foi nomeado para o cargo na Petrobrás em janeiro de 2003 ‘no novo governo Lula’.

O advogado indagou ainda, se ‘houve participação’ do então senador Delcídio Amaral (ex-PT/MS) em sua indicação. 

“Sim, minha indicação (foi feita) pelo (ex) governador Zeca do PT (MS), por indicação do senador Delcídio”, respondeu o ex-diretor da estatal petrolífera. Cerveró acrescentou que ‘houve pagamento de vantagem indevida a Delcídio posteriormente’. 

Segundo o Estadão, Cerveró, que estava sendo pressionado para deixar o cargo em 2006, disse que foi o partido do presidente Michel Temer que se aproximou dele e não o contrário. 

“Foi o PMDB que se aproximou de mim, em 2006, logo depois do Mensalão, através do ministro Silas Rondeau que fazia parte do grupo do PMDB”, respondeu. “Fui procurado pelo Silas que me apresentou ao senador Renan (Calheiros) e, na época, ao deputado Jáder Barbalho (PMDB/PA). Me informaram que eu passaria a ser apoiado por esse grupo.”

Renan nega que recebeu US$ 6 milhões de Cerveró, em 2006, acusação levantada na delação premiada do ex-diretor da Petrobrás. 

“Realmente foi um acerto que houve com esse comando do PMDB. Delcídio não fazia parte desses seis milhões, mas houve uma destinação desses seis milhões de dólares para esse grupo (do PMDB) de propinas (no âmbito) da primeira sonda que a Petrobrás contratou. Delcídio não fez parte. Dois anos depois fui substituído.”

“Minha substituição não foi de uma hora para outra, se iniciou com uma pressão do PMDB da Câmara. Fui cobrar o apoio do grupo do PMDB do Senado, mas esse grupo estava muito enfraquecido  na ocasião porque o senador Renan teve que renunciar (à presidência da Casa) por conta da história da filha dele. Esse grupo tinha perdido (força)”, relatou Cerveró.

Por fim, Cerveró confirmou que foi pressionado a fazer um pagamento mensal de US$ 700 mil ‘ao grupo do PMDB’ para se manter no cargo, e acrescentou ainda, segundo o jornal, que esteve com Michel Temer, na ocasião, deputado e presidente do PMDB. 

“Estive com Michel Temer, (fui) levado pelo dr. Bumlai (pecuarista José Carlos Bumlai, réu da Lava Jato). Ligou, marcou uma audiência com o deputado Michel Temer, no escritório dele em São Paulo. Fui lá, ele (Temer) me recebeu muito bem, mas disse que não podia contrariar os interesses da bancada que ele comandava, ele era o presidente do PMDB.”

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