Ao matar Khaddafi, Líbia sofre crise gravíssima

Manifestantes queimam retratos de Muammar Khaddafi em Benghazi
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Sputnik News - 13/12/2015

A Líbia se tornou uma das primeiras vítimas da Primavera Árabe. O país que antes liderava o ranking dos mais ricos de África vive hoje no caos. O assassínio do chefe de Estado, Muammar Khaddafi, com assistência da aviação da OTAN, devia trazer a democracia e a liberdade. Mas o que o país recebeu ao invés?

Segurança dos cidadãos
As organizações de defesa dos direitos têm chamado frequentemente a atenção às ações dos vários agrupamentos armados, cada um dos quais se intitula «verdadeiros revolucionários». Estes agrupamentos, que apareceram depois da morte de Muammar Khaddafi, não só lutam entre si mas também executam assassínios e raptos.
Por exemplo, em 2013 foi raptado o primeiro-ministro Ali Zeidan.

Este foi dos poucos casos em que a mídia deu a notícia, por causa do alto cargo da vítima. Mas segundo os ativistas dos direitos humanos, o número total dos desaparecidos durante a guerra civil é de 10,5 — 11 mil pessoas.
De acordo com a organização de defesa dos direitos da Líbia, uma só cidade com 100 mil habitantes, Sabha, lidera a lista das cidades mais criminosas do mundo. Em 2015 lá ocorreram 138 raptos, ou seja, um rapto de dois em dois dias. 
Quanto às cidades grandes, em Misrata foram raptadas 850 pessoas, diz o coordenador do Comitê Líbio para o Resgate de Pessoas em Misrata, Tarek Abdel Hadi. Entre os raptados há 20 crianças e 25 idosos. Abdel Hadi nota que os casos mais frequentes são raptos de famílias completas.
O ex-porta-voz da união das tribos líbias, Bassem al-Sol, falou à Sputnik sobre o número de mulheres que estão em prisões informais dos agrupamentos militares.
«Em edifícios de Benghazi, Misrata e Sirte, transformados em prisões ilegais das milícias, há mulheres que são acusadas de ‘apoio do regime de Khaddafi’. A única coisa que estas mulheres fizeram foi terem sido funcionárias públicas. Só em Misrata tais mulheres presas são 4300, sujeitas a torturas», disse Bassem al-Sol.
Segundo o Crescente Vermelho da Líbia, só em 2014, um total de 72.682 famílias perderam a sua casa e tiveram de fugir no país por causa dos combates levados a cabo por islamistas.  
De acordo com o Ministério do Interior líbio, agora cerca de 16 mil pessoas possuem armas ilegais e são membros de agrupamentos ilegais. Este armamento vem dos tempos da operação da OTAN, quando a aliança forneceu armas aos assim chamados revolucionários para combater ao poder legítimo de Khaddafi em 2011. As novas autoridades líbias não conseguiram desarmar os grupos ilegais nem uni-los para começar negociações.
Crianças são as mais valiosas para os militantes
Passem al-Sol também disse que as crianças são sequestradas mais frequentemente já que se pode receber um grande resgate por elas.
«Habitualmente, os sequestradores pedem 100-200 mil dólares, conforme o status ou estado financeiro da família. Às vezes, o montante pode atingir um milhão de dólares», acrescentou al-Sol. 
Além disso, nos territórios controlados pelo Daesh, também conhecido como Estado Islâmico, as crianças são uma ferramenta para realizar atentados terroristas. 
«As crianças em Sirte são sequestradas, as transformam em verdadeiros militantes do Daesh que matam, violam e cometem atos terroristas. Mudam completamente o seu modo de pensar», diz Bassem al-Sol.
Quanto ganham os líbios, quanto ganha um mercenário do Daesh?
Segundo os dados da mídia, os comandantes do Daesh ganham 6000 dólares por mês. Caso seja casado, o salário aumenta (em 500 dólares); por cada filho aumenta 200 dólares.
Um militante de base ganha cerca de 265 dólares. Se tem mulher, ganha 1500 dólares.
Por sua vez, no final da primeira metade de 2015, o porta-voz do governo transitório da Líbia, Hatem al-Arabi, disse que os salários em atraso a todos os trabalhadores no setor público ultrapassaram 890 milhões de dólares, enquanto antes da Primavera Árabe em 2011 o salário médio era de 1000 dólares. 
O buraco do petróleo
A Líbia, que é um dos países mais ricos em petróleo em África e no Oriente Médio, está passando por uma crise de falta de petróleo devido à situação no país. Torres de petróleo, armazéns, oleodutos foram muitas vezes razões dos confrontos entre os grupos militares na Líbia. Ultimamente, militantes do Daesh têm se juntado ao combate.
Segundo a empresa estatal petrolífera líbia, NOC, a extração média de petróleo em 2010 era de 1500 barris por dia, enquanto em 2015 é de 500 mil. O restante é extraído nos territórios controlados pelo Daesh e outros grupos armados.
Segundo os últimos dados do site GlobalPetrolPrices, que elaborou a lista dos preços de petróleo no mundo árabe, o preço médio por um litro de gasolina na Líbia é de 0,14-0,17 dólares. Antes da Primavera Árabe, durante a crise financeira, era de 0,10 e 0,12 dólares.

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