
As especulações crescentes sobre uma eventual saída do Ministro Joaquim Levy da pasta da Fazenda têm, boa parte de exploração política mas, também, um fundamento real.
Levy não pôde entregar a “mercadoria” que prometeu, um ajuste rápido, profundo, seguido de uma recuperação modesta, mas crescente, da economia.
É óbvio que, em grande parte, por fatores que estavam além de seu controle.
Desde os mundiais – porque o cenário no início do ano era o de progressiva recuperação da economia global – até os políticos, pois a cooperação de um Legislativo sublevado, sob o comando de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, empenhados em criar despesas e recusar qualquer possibilidade de ganho de receitas, que que só agora aconteceu – e timidamente – com a redução da desoneração tributária em alguns setores antes beneficiados pela política expansionista do primeiro mandato de Dilma.
Se há algo, porém, de que Levy não pode reclamar é do apoio que teve de Dilma Rousseff, ao ponto de ter a Presidenta ter permitido que se enviasse à população uma imagem em muitos pontos inversas àquelas que tinha e que a levaram ao triunfo eleitoral.
Talvez ele, Levy, tenham levado algum tempo para se dar conta de que não são políticas conservadores o que querem os conservadores no Brasil.
O que querem – e ao ver a possibilidade disso entram num estado de incontrolável excitação – é ter o poder de volta, pela via da demolição do governo que, pela quarta vez desde 2002, os venceu nas urnas.
E que, para isso, não hesitam em apostar numa situação caótica, algo nada difícil de alcançar, com o coquetel que mistura nossos problemas intrínsecos, os conjunturais, os globais, tudo regado ao molho de uma mídia que se tornou puerilmente furibunda e perversamente seletiva em sua indignação.
Joaquim Levy deveria entender que está sendo derrotado por aqueles a quem quer agradar e não pelos que nos desagradamos de sua escolha para Ministro da Fazenda.
Entre outras razões, porque somos a outra mão, além daquela de “tesoura” que o notabilizou, necessária ao equilíbrio das contas públicas, a que é capaz de pugnar por uma receita maior e mais bem distribuída no corpo da sociedade, pois a estrutura tributária brasileira é um caso antológico de desequilíbrio e injustiça.
E, convenhamos, também um caso patológico de complicação, ineficiência e deformações, além da sonegação “lavajática” que surge nas maracutaias reveladas na Operação Zelotes que, embora imensas, estão longe de ser a causa de nossas agruras, embora estejam perto de revelar os descaminhos do imposto no Brasil.
Levy e seus cortes são parte importante da busca do reequilíbrio fiscal, mas Levy e seus cortes não são um horizonte que nos reequilibre e nos devolva o senso de direção indispensável para os agentes econômicos – dentre os quais frequentemente esquece-se de incluir o povão.
Apesar de todos os problemas reais porque passamos – desde os nossos até os que nos vêm de fora – o nosso problema central é o da falta de confiança.
Era essa a missão essencial que lhe foi atribuída.
E ela não será cumprida porque sua presença agrada aos grandes, que estão se lixando para a sua permanência no cargo e fariam de sua saída apenas mais uma ferramente da lucrativa especulação financeira.
Ninguém sabe o que temos pela frente, mas tem faltado ao Ministro Levy a capacidade de entender que não tem sido capaz de apontar o saídas e que que é disto que lhe vem a grandeza possível da posição que ocupa.
Levy tem toda a razão em reclamar das “trapalhadas” erráticas do Governo e nenhuma razão para achar que não é parte delas.
Muito menos em achar que é possível ser o “comandante” da economia e achar que os problemas da política não são seus, ainda que os Mercadante da vida tornem mais difícil o que muito difícil é.
Se não pode haver retomada da economia sem ajuste nas contas, é um fato já visto que igualmente não pode haver ajuste sem um mínimo de retomada da atividade econômica.
É este o impasse que precisa ser resolvido e ele está na capacidade de criarem-se as condições políticas para sustentar medidas estruturais que o permitam.
E a política, neste momento, e a única porta para resolvê-lo e é o que Lula tenta dizer ao pedir que o Governo restabeleça um mínimo de capacidade de articular-se com o (ex?) centrão liderado pelo PSDB.
É mais que hora de se perceber que nossa chance de vencer a crise, como fez aquele a quem chamaram de “simplório” ao afirmar que o tsunami da crise de 2008 viraria aqui marolinha, é crescer.
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