Fernando Brito: Ministra, não precisamos do Jabor do STF

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Leio, em matéria da  Reutersque a ministra Carmen Lúcia, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, recomendou, em palestra da Associação Comercial do Rio de Janeiro, que os brasileiros devem “assumir a ousadia que os canalhas têm”.
A frase de Nelson Rodrigues, voltou a circular por obra de Arnaldo Jabor, o Furioso, que talvez a tenha usado como um autorretrato.
Repetida por uma ministra do Supremo como recomendação, aí já se torna uma dantesca caricatura do espírito que tomou conta de parte ( e parte barulhenta) da magistratura brasileira e que é, em si, a negação do equilíbrio da Justiça, que tem a espada em repouso e ergue, antes, a balança.
Porque os homens e mulheres de toga, ministra, não podem ou devem ser ousados, mas equilibrados, prudentes e firmes, antes de tudo.
Tomo a liberdade de dizer à senhora, que dele deve conhecer mais do que eu, as palavras de Catão, o Velho: “os sábios evitam os erros dos tolos, enquanto estes últimos não imitam a prudência dos sábios”.

É fato que a senhora não nominou quem são os canalhas, mas não é bom para os homens de bem que aquela que vai julgá-los já tenha, in pectore,  a alguns na conta de canalhas e a outros como “homens de bem”.
Do contrário, além de erguer a  espada antes da balança, a Justiça também arranca fora sua venda e apenas dá forma jurídica ao que já julgou antes de “julgar”.
Ou, para voltar a Castão: “É difícil, ó cidadãos, discutir com o ventre, que não tem orelhas.”
Julgamentos com predomínio exclusivo da opinião pública (ou da que se publica, na sabedoria do Barão de Itararé, patrono dos blogs) a humanidade conhece desde que Pilatos perguntou, na praça do pretório, quem deveria ser condenado e poupado.
Eu, o leitor, qualquer pessoa que passe aqui na calçada, podemos, por exemplo, considerar Eduardo Cunha um canalha.
Não a senhora, quando for julgá-lo, ou a qualquer outra pessoa, seja ela um canalha ou não.
Juiz considerar-se “salvador da pátria”, por unção de um concurso público ou uma nomeação política, é a porta aberta para o autoritarismo e a tirania.
Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, alçados pela mídia a esta posição, são dois exemplos de que assumir a ousadia dos canalhas acanalha-nos como eles.
Não, Ministra, civilização é sermos capazes de não mordermos com a mesma fúria o cachorro que nos morde.
Senão, o que nos diferenciará deles?
Eu ia perguntar se a senhora não acha, mas me lembrei de um trecho de sua entrevista logo ao tomar posse na vice-presidência do STF e resolvi não perguntar, para não ficar na mesma situação:
“Outro dia eu falei com um juiz do trabalho, que disse: ministra, mas a senhora não acha… Primeiro, eu não acho, eu voto, eu decido. Ele disse: eu estava falando para florear, para a senhora não ficar de mandona. Não, meu filho, eu obedeci a Madre Superior, minha mãe, meu pai, namorado, professor, agora eu mando. Adoro mandar. Eu mandei, cumpra. Mulheres, depois que passa dos 50, a gente gosta mesmo é do sim senhora, não é do eu te amo. Se tiver o eu te amo junto, aí isso é um Deus. Sim senhora e eu te amo, aí é realização total”.
Sim, senhora…
Agora, imagine se Dilma, que foi eleita, dissesse algo apenas parecido?

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