Paulo Nogueira: Como a Folha, por medo da Globo, perdeu a chance de investigar a corrupção no futebol.

Postado em 01 jun 2015
Teixeira agia movido a propinas
Teixeira agia movido a propinas
A Folha é engraçada.
Diz, acusatória, que a PF abriu 13 inquéritos contra a CBF em 15 anos, e nenhum deles deu em nada.
Vaias para a PF, portanto.
Mas e a Folha, um jornal a serviço do Brasil? O que ela fez? Promoveu uma única investigação sobre a CBF?

E chances não faltaram. Faltou coragem de mexer num universo, o da CBF, em que um dos protagonistas é a Globo.
Todo mundo no Brasil morre de medo da Globo, do governo às demais empresas de mídia.
É a razão pela qual a Globo faz o que quer, e escapa mesmo de sonegações fartamente documentadas.
Chances para a Folha não faltaram.
Os arquivos provam. Uma notícia da Folha de dezembro de 2006 – resgatada e posta para circular nos últimos dias, depois do escândalo da Fifa – tinha o seguinte título: “Globo paga menos e leva dois Mundiais.”
O texto dava as cifras. A Globo pagou 100 milhões de dólares pela Copa de 2010 e 120 milhões pela de 2014.
O extraordinário, aí, é que a Record foi preterida com uma oferta de 180 milhões de dólares por Copa. Isso daria, portanto, 360 milhões de dólares, contra os 220 milhões da Globo.
Vistas as coisas hoje, é fácil entender o milagre. Na época da decisão, e da matéria da Folha, Ricardo Teixeira e João Havelange dominavam a CBF e eram influentes na Fifa.
Uma hipótese benevolente é acreditar que a Globo levou todas pela voz de Galvão, ou coisa parecida.
Mas, como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.
Habitualmente tão desconfiada quando se trata do PT, a Folha publicou o seguinte.
“A Folha apurou que a Fifa levou em consideração não apenas as propostas financeiras.”
É aí que entra a voz de Galvão, ou coisa do gênero. Ou propinas.
Mesmo um admirador fervoroso da Folha há de convir que foi miserável a apuração do jornal do estranho caso da concorrência vencida pela pior proposta.
O jornal deveria pedir desculpas a seus leitores, mas não.
Em sua coluna de ontem, a ombudsman tocou no escândalo da Fifa, em outro contexto, naturalmente.
Ela criticava uma manchete sobre o episódio porque tomara o lugar da derrota do Distritão.
O secretário de redação, Sérgio Dávila, não se rendeu.
Disse que a escolha pela Fifa se devia à tradição da Folha de cobertura “crítica” do mundo do futebol, “inigualável” no Brasil.
De novo: a Folha aponta para a PF, no fracasso em investigar a corrupção na CBF, quando deveria olhar para o próprio espelho.
Em seu marketing, o jornal apregoa não ter o rabo preso com ninguém. Poderia acrescentar: exceto com a Globo.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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