DW: Rússia e Cuba reforçam aliança estratégica
Ambos países pretendem intensificar cooperação apesar do desgelo nas relações entre Havana e Washington. Líder cubano, Raúl Castro, participará das festividades do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra.
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e de Cuba, Raúl Castro, expressaram nesta quinta-feira (07/05) em Moscou o desejo mútuo de manter e desenvolver a aliança estratégica entre os países, agora que Havana começou o processo de degelo das relações diplomáticas com os Estados Unidos.
"Não preciso descrever a qualidade das relações russo-cubanas. Elas têm uma longa história e, além disso, celebramos o 55º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas. Estamos muito contentes por vê-lo, seja bem-vindo", disse Putin a seu convidado no início do encontro.
Os líderes se cumprimentaram calorosamente e se abraçaram diante dos jornalistas antes de duas reuniões – numa acompanhados por suas respectivas delegações e outra, posteriormente, a sós.
O líder cubano, o primeiro dos visitantes internacionais a chegar a Moscou para participar das celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra, agradeceu a Putin pelo convite. "Não podia faltar a esta festa", afirmou Castro, após se referir à "grande vitória dos povos da antiga União Soviética" sobre os nazistas.
Castro também destacou os importantes acordos no plano econômico alcançados durante a visita que Putin fez a Cuba em julho do ano passado, e que agora pretendem botar em prática. Sobre estes planos, Castrou falou na quarta-feira, seu primeiro dia de estadia em Moscou, com o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, em um encontro centrado na cooperação econômica.
Pingo sobre os 'is'
Nem Putin nem Castro fizeram mais declarações após as reuniões desta quinta-feira, da qual não foram dados mais detalhes. Mas analistas consideram que o principal objetivo do líder cubano é convencer Moscou que, apesar da aproximação entre Washington e Havana, Cuba continuará sendo um parceiro estratégico.
"Raúl Castro veio para pôr os pingos nos 'is' e comunicar claramente às autoridades russas que, apesar da importância e da necessidade de desenvolver a colaboração com os EUA, Cuba segue plenamente interessada em desenvolver a cooperação com a Rússia", disse o diretor do Centro de Estudos Políticos do Instituto da Academia de Ciências da Rússia, Boris Shmeliov.
Havana precisa de investimentos para tirar sua economia do ponto morto em que se encontra, e nesse sentido ganham força os projetos em áreas como as de energia e infraestruturas, a ser desenvolvidos com a ajuda de Moscou.
Além disso, segundo Shmeliov, o líder comunista estaria buscando obter uma espécie de garantia de segurança por parte da Rússia para o caso de que chegue à Casa Branca um líder mais duro em política externa do que Barack Obama, que mude a postura em relação a Cuba demonstrada em março na Cúpula das Américas, no Panamá.
As relações russo-cubanas, que esfriaram após a desintegração da União Soviética em 1991, foram impulsionadas novamente uma década depois. No ano passado, por exemplo, a Rússia cancelou 90% da dívida de aproximadamente 31 bilhões de dólares contraída pelo país caribenho perante Moscou durante a época soviética.
Castro participará no sábado do desfile militar na Praça Vermelha que celebra o 70º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra, junto a outros aliados da Rússia, como os presidentes de Venezuela, Nicolás Maduro, e China, Xi Jinping.
A tradicional parada militar de 9 de maio será acompanhada por cerca de 30 chefes de Estado ou de governo mundiais, mas por nenhum líder ocidental, apesar dos convites feitos pelo Kremlin. A Rússia segue submetida a sanções por seu suposto envolvimento na crise da Ucrânia.
"A presença de Castro na parada demonstra que, apesar das tentativas dos EUA de normalizar as relações com Cuba, a prioridade estratégica para Havana continua sendo a Rússia", disse o ex-general soviético e chefe da Academia de Assuntos Geopolíticos da Rússia, Leonid Ivashov, à agência de notícias Efe.
Precisamente quando as relações russo-americanas passam por uma grande tensão, o líder cubano viajará no domingo ao Vaticano para agradecer ao papa Francisco por sua mediação na aproximação entre Cuba e os Estados Unidos.
PV/efe/ots
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