O apocalipse midiático e a vida real
Algumas das previsões da mídia sobre a Copa do Mundo. A revista Veja dizia que os estádios ficariam prontos em 2038. O jornal Folha de S. Paulo advertiu que poderia faltar luz durante o evento. O jornal O Globo e a rádio Jovem Pan alertavam para o “perigo de um surto de Dengue” durante os jogos. O Globo convocou inclusive um dos seus “especialistas” para afirmar que “o risco (de Dengue) era enorme”.
O jornal O Estado de S. Paulo dizia que “vai faltar internet na Copa” e lembrava que era tempo de desistir: “há 32 anos, a Colômbia disse não à Fifa e desistiu da Copa de 1986”. Na revista Época, o escritor Paulo Coelho usava dos seus poderes mediúnicos para asseverar que “A barra vai pesar na Copa do Mundo. Eu tenho convite da FIFA mas não vou à Copa”.
Motivo de angústia
Não existe risco de apagão, nunca existiu surto de dengue em junho ou julho (historicamente, o aumento da doença ocorre entre março e abril), os estádios vão estar prontos para receber os jogos, vai ter internet, etc. Os constantes desmentidos do governo pouco adiantavam. Muitos apostavam que a Copa sequer seria realizada. A campanha contra era massacrante, a ponto da maior revista francesa de futebol constatar atônita que a realização da Copa do Mundo no “país do futebol” estava sendo "motivo de angústia". No fim, nenhuma das previsões apocalípticas aconteceu e as avaliações internacionais são praticamente unânimes em considerar que a Copa de 2014 foi mesmo a “Copa das Copas”.
Quem constrói a crise?
A crise política e a crise econômica são reais, mas também não são fenômenos da natureza (hoje ventou, ontem não, hoje teve crise, amanhã depende do tempo). Elas são desencadeadas por complexos fenômenos sociais e construídas socialmente também, mas não somente, por poderosos agentes interessados em sua deflagração. As crises política e econômica são interdependentes. A crise política alimenta a crise econômica que por sua vez dá mais combustível à crise política e assim a coisa vai. Quem governa tenta interromper o ciclo vicioso, quem é oposição tenta fazê-lo chegar ao clímax. Mas no Brasil existe um componente particular: uma mídia oligopolizada e monoliticamente conservadora atuando como força aglutinadora e orientadora da oposição, ambas (mídia e oposição) sem qualquer compromisso com os interesses nacionais.
Terrorismo midiático
O terrorismo midiático é uma realidade esmagadora no Brasil. A luta política contra-hegemônica só atinge amplas massas durante as disputas eleitorais, quando as forças do campo popular, graças à legislação, têm acesso a meios de comunicação de massa durante vários dias para neste curto espaço fazer o contraponto. Nas últimas eleições, conhecido o resultado das urnas, a luta contra o governo assumiu tons ainda mais elevados, revelando a dificuldade de uma imprensa cevada pela ditadura militar em aceitar sua quarta derrota seguida. A presidenta Dilma não teve um segundo de paz para governar e sequer tinha assumido o 2º mandato para o qual foi eleita e já se falava em impeachment. Manchetes diárias aos borbotões e telejornais histéricos falando de um Brasil à beira do abismo, convulsionado e corrupto, dominam o noticiário há meses. O imaginário coletivo é contaminado e a verdade e o fato passam a ter pouca importância, diante da “verdade” publicada.
“O que é bom a gente esconde”
Não existem dados positivos na realidade nacional, é o que prevalece na visão midiática. Como lembra o jornalista Fernando Brito, no Tijolaço, a extração de petróleo no pré-sal dobrou em um ano, atingindo em janeiro 814 mil barris diários. Ninguém sabe, ninguém viu, pois a mídia esconde a notícia como parte de sua estratégia de acabar com a imagem da Petrobras. Cinicamente, os jornalões tentam convencer o povo de que nunca existiu corrupção antes de as forças populares assumirem o governo central, e se existia era bem pouquinha. Conto da carochinha tão infantil mas tão repetido que muitos acreditam na fábula. A corrupção, é óbvio, existia e em nível muito maior, como lembra o editorial doPortal Vermelho, e só agora é combatida efetivamente. A mesma mídia que posa de vestal é a que oferece a qualquer um que tope fazer o jogo da desestabilização do governo, uma blindagem que equivale a um salvo conduto, espetáculo que atualmente corre diante dos olhos da nação. Neste cenário, que contamina o noticiário internacional, se recebemos visitantes espanhóis, italianos ou portugueses, ou de outros lugares da Europa, eles se mostram espantados pois seus países vivem crise econômica bem pior do que a nossa sem no entanto o clima de terror midiático e a crise política em que vivemos.
Que prevaleça a vida
Mesmo o suspeitíssimo “índice bloomberg de infelicidade econômica”, recentemente divulgado, coloca a Espanha em sexto lugar (é claro que quanto mais alto o lugar pior) e o Brasil em 13º. Mesmo eles – representantes da banca internacional - não conseguem comparar a situação dos dois países. Mas experimente dizer para uma vítima da lavagem cerebral midiática que o Brasil está melhor do que a Espanha (ou do que a Itália ou Portugal, também piores colocados do que o Brasil no tal índice). Ela provavelmente te chamará de “petralha”. A luta para que prevaleça a verdade sobre o tom apocalíptico da mídia é árdua mas necessária. Temos ao nosso lado um grande trunfo: por maior que seja a montanha de mentiras, cedo ou tarde a vida real se impõe. Vamos agir para que se imponha cedo.
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