Obama tenta marginalizar os irredutíveis anti- Sírios


Thierry Meyssan - REDE VOLTAIRE - DAMASCO (SÍRIA

Após longas hesitações, a administração Obama adaptou a sua nova Doutrina de Defesa. Para o Levante fora de questão «remodelar o Médio-Oriente Alargado», nem derrubar o presidente Bachar el-Assad mas, apenas, «reduzir» o Emirado islâmico. A Casa Branca espera repôr a sua máquina militar em ordem e a funcionar. Para o conseguir o presidente Obama tenta obter o apoio do Congresso.


Ao pedir ao Congresso para votar uma «Autorização para o uso de força militar» (Authorization for Use of Military Force - AUMF), o presidente Obama decidiu, por fim, clarificar a política dos Estados Unidos no Levante.
De acordo com a sua proposta de lei, o Pentágono seria autorizado a perseguir o Daesh (Emirado Islâmico-ndT) sem limite de fronteiras (quer dizer ao mesmo tempo no Iraque e na Síria, depois em qualquer parte), utilizando para isso homens no terreno, para a recolha de informações e o apoio aos ataques aéreos, mas não para combate terrestre, no total com uma duração de 3 anos renováveis [1]; uma definição de missão correspondente, em todos os pontos, às exigências do chefe de Estado- maior inter-armas, o general Martin Dempsey [2].
No decurso dos últimos anos apenas por 2 vezes «autorizações para o emprego da força das armas» tinham sido votadas. A primeira, a 14 de setembro de 2001, autorizava a atacar as nações, organizações ou pessoas ligadas aos atentados de 11- de-Setembro, tal como outras ligadas a outros grupos terroristas quaisquer que eles fossem, sem limitação de tempo [3].
A segunda, a 2 de outubro de 2002, autorizava a invasão do Iraque [4]. Na realidade ela era inútil, visto que Washington acusava Saddam Hussein de apoiar a al-Qaida há vários anos, e aí incluindo a organização de atentados em França, na Grã-Bretanha, em Espanha, em Itália, na Alemanha e na Rússia (sic) [5]. Mas, ela mostrou-se necessária assim que esta acusação grotesca foi abandonada e que o general Powell apresentou, em nome pessoal, as suas “piedosas” desculpas [6].
Treze anos mais tarde, a proposta Obama não visa legalizar a operação da Coligação internacional anti-Daesh, já que o texto de 2001 é amplamente suficiente, mas, na realidade, a privar de qualquer legalidade as operações contra a República árabe Síria. Era exactamente o que o secretário da Defesa Chuck Hagel havia reclamado por escrito, no final de outubro [7], e que lhe valeu ser despedido por pressão do Likud israelita e dos neo-conservadores norte-americanos [8].
A relação de forças evoluiu, pois, em favor da Casa Branca. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu está em apuros em relação à sua campanha eleitoral. A sua vinda ao Congresso foi adiada para mais tarde, apesar do convite que ele se havia feito enviar a si próprio através do Presidente da Câmara dos Representantes. Além disso, os neo-conservadores norte-americanos tudo farão para atrasar a votação do projecto de lei na esperança de uma reeleição do seu campeão em Telavive.
No entretanto, em Washington, o senador John McCain, presidente do Comité das Forças Armadas, rufa o tambor para fazer falhar a proposta Obama. Embora, continuando a afirmar querer a destruição do Daesh, o homem que negava as nossas revelações segundo as quais se encontrou com o «Califa» Ibrahim al-Baghdadi, em maio de 2013 [9], finalmente admitiu, a 16 de setembro de 2014, na Fox News, estar em contacto permanente com o Estado maior do «Emirado Islâmico» [10]. Reclamando a sua experiência vietnamita, ele explicou que os Estados Unidos deviam aliar-se com o diabo afim de derrubar a República Árabe da Síria; uma meta agora inútil e perigosa para Washington, mas sempre indispensável para o projecto Likudiano de um estado sionista estendendo-se do Nilo ao Eufrates.
A votação da proposta Obama levará semanas ou mesmo meses. Se ela for adoptada, colocará, ao mesmo tempo, um fim quer ao projecto de «remodelagem do Médio- Oriente Alargado», quer à criação de um «Curdistão» pró-israelita, tanto como de um «Sunistão» terrorista, a cavalo sobre a Síria e o Iraque [11].
A lógica de Obama parece adquirida por Ban Ki-moon. O seu enviado especial para a Síria, Staffan de Mistura, deverá apresentar um relatório afirmando que não se pode combater eficazmente o Daesh (E. I.), nem acabar com o conflito sírio, sem o apoio do presidente Bashar al-Assad.
Tradução
Alva

Thierry MeyssanIntelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

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