Ucrânia: governo de Kiev recruta fascistas para lutar no leste

Os paramilitares de extrema-direita seguem acampados na praça Maidan e continuam armados com metralhadoras, pistolas e coquetéis molotov.

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Berlim - Restou para o governo de Kiev uma bomba ao lado do seu prédio. Na praça Maidan, cenário das manifestações que provocaram a queda do ex-primeiro-ministro Viktor Yanukovitch, os paramilitares de extrema-direita que as monopolizaram ainda estão acampados. E continuam armados, com metralhadoras, pistolas e coquetéis molotov.

Foram uma fonte de sustentação para o novo governo, mas são potencialmente um problema, pois o Partido Svoboda, de extrema-direita, que tem representação no Parlamento e no novo governo, não tem o menor controle sobre eles. A maioria destes pertence ao chamado “Setor da Direita” (Pravy Sektor), que se tornou conhecido naquelas manifestações pela violência com que enfrentou a polícia, inclusive com franco-atiradores.

De um modo geral, a orientação editorial de muitas mídias no Ocidente ignora, ou pelo menos faz vista grossa, para este extremismo de direita na Ucrânia, bem como os governos dos Estados Unidos e da União Europeia. Esta orientação editorial opta sempre pela demonização da Rússia e do presidente Vladimir Putin, apontando-os como os grandes responsáveis pela crise e instabiliodade ucranianas.

Porém os relatos dos repórteres in loco, publicados, por exemplo, no The Guardian e no New York Times, têm mostrado com frequência um outro lado desta moeda.

Recentemente vieram à tona relatos que dão conta não só da presença daqueles movimentos fascistas entre as forças ucranianas que estão combatendo os chamados “separatistas” do leste, ou ainda “terroristas”, segundo a definição do governo de Kiev, como também de uma certa tensão interna neste, mostrando um cisalhamento que pode desandar em mais desordem e caos.

O primeiro ministro Arseniy Yatsenuk esteve em Bruxelas, onde, primeiro, na terça-feira, rejeitou a propostas russa, e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (de que os EUA fazem parte), de que os movimentos do leste fossem incluídos em futuras negociações. Depois, recuou um pouco, anunciando que aceitaria negociar com representantes das províncias daquela região, não deixando claro que “representantes” seriam estes.

Enquanto isto, o Chefe do Conselho Nacional de Defesa e Segurança do país, Andriy Parubiy, um dos líderes dos eufemisticamente chamados de “ativistas da praça Maidan” pela mídia do Ocidente, anunciava a convocação de 400 destes para reforçar o contingente ucraniano na região de Slavyansk, um dos principais bastiões dos rebeldes. Dois coelhos numa só paulada: combater os rebeldes no leste e canalizar a "energia" dos "ativistas" para algum outro local, longe do prédio do governo.

Acrescentou ainda que já enviara alguns destes “ativistas” para Mariupol, um porto no sudeste ucraniano, cuja intervenção provocou um confronto com mortos e feridos – do lado oposto, é claro.

Outros militantes de direita estão sendo chamados em outras partes do país para ajudar a “restaurar a ordem”no leste. Ainda na sexta-feira, um dos principais oligarcas da região recrutou os trabalhadores de suas fábricas para ajudar a polícia de Mariupol também a “restaurar a ordem”. Reportagens simpáticas a esta “restauração” apareceram nesta mídia comprometida, criando, evidentemente, uma imagem de oposição à do apoio popular que os movimentos separatistas receberam durante o fim de semana, em que relaizaram seu controvertido plebiscito sobre a autonomia da região.

A Ucrânia vai mais e mais se parecendo ao Vietnã dos anos sessenta: uma mídia editorialmente hostil, umm maniqueísmo editorial demonizando o “outro lado”, relatos locais dando conta de uma situação muito mais complexa do que isto de “branco e preto”, “mocinhos e bandidos”, que este renascimento retórico e militar da Guerra Fria quer imprimir como marca hegemônica na leitura desta situação.




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